Cérebro e transtorno do ânimo: qual a relação?

O que é Transtorno do Ânimo? Bom, quando sofremos uma mágoa, sofremos também uma liberação de uma química que muda o corpo e afeta o funcionamento do cérebro. Sendo assim, também é afetado o sono, o intestino, a memória, o foco, a motivação, a libido, o desejo sexual, o prazer sexual, a paixão, o ânimo e o entusiasmo.

Há muito tempo eu não vejo alguém chegar no meu consultório e dizer “eu estou apaixonado pelo meu trabalho”, “eu estou muito bem remunerado”, “eu estou muito feliz”, “eu estou completamente zen no meu trabalho, não existe pressão, só amor, carinho e boas perspectivas”. Falta cada vez mais brilho nos olhos, e o que gera esse brilho nos olhos é a dopamina (substância produzida no cérebro). Para ter dopamina, você tem que estar atingindo os seus desejos ou no máximo algumas expectativas ou possibilidades. A partir do momento em que as pessoas não estão sonhando, atingindo suas expectativas e nem as possibilidades, a dopamina vai sumindo.

Transtorno do Ânimo é justamente a falta de tesão, de paixão, de autoestima, de autorrespeito, de autoimagem, como a pessoa se vê e se expressa no mundo, que depende da química do cérebro. E isso está aumentando assustadoramente.

Há 28 anos atrás, quando eu chegava no consultório, era simples: eu dava uma dieta ao paciente e pedia para ele voltar trinta dias depois, e assim, ele atingia menos 5kg a 8kg. Hoje, você conversa, da minerais quelados, aminoácidos, medicações de alto nível e a maioria não emagrece. Isso acontece porque no primeiro feriadão, empurra com a barriga e pensa “a vida já está tão ruim que eu vou comer mesmo”, “vou para um Hotel Fazenda me recuperar”. E aí, vai para o Hotel Fazenda e come, come, o açúcar aumenta, o cérebro não queima e de lá sai deprimido, desanimo. Comer dessa forma faz os receptores que vão fabricar as substâncias do prazer, da felicidade e do bem estar se entupirem. É preciso ter essa consciência para fazer determinadas mudanças.

É menos recorrente no Brasil, mas em outros países é comum o uso de anabolizantes, as pessoas ficarem horas e horas malhando, olhando no espelho e não estarem satisfeitas. A vigorexia é um transtorno que faz com que eles enxerguem no espelho uma imagem distorcida de si mesmo. O que aparece no espelho não é a imagem que eles tem, mas sim a imagem de uma insatisfação não tratada. A pessoa não percebe que ela tem um tipo de alteração que distorce a própria imagem, onde o que você vê no espelho não é o que você é. O que vemos no espelho é o que gostaríamos de ser ou aquilo que achamos que não somos. O certo não é só trabalhar fora, mas também trabalhar dentro.

Na maioria das vezes a pessoa tem um transtorno neuroquímico, uma alteração bioquímica e essa alteração não é percebida ou tratada. Se você disser que ela precisa de tratamento, ela não vai acreditar. Hoje existe a influência da mídia, das propagandas e do que é normal ou não depende muito mais dos meios de comunicação do que das próprias pessoas que estudam os problemas.

Quando os nossos cérebros não estão produzindo glicose suficientemente para manter a energia, quando a voltagem do cérebro cai, o desânimo é geral. E as vezes você tem que tocar uma empresa, com funcionários que dependem de você, uma família e seus familiares dependem de você e a pessoa está deprimida. Não é preciso fazer dosagens no sangue de serotonina ou dopamina, que são as substâncias que dão a energia no cérebro, basta você olhar e ouvir as queixas que a pessoa tem. É necessário dizer para ela que se o tratamento seguir corretamente, ela pode ficar boa. Mas, na maioria das vezes a pessoa não trata corretamente porque sempre tem um macaquinho bêbado que chega na pessoa e diz assim “nossa, você vai tomar esse remédio?”, e aí vem outro: “olha, eu tenho uma irmã que enlouqueceu com esse remédio”, “ó, se você tomar esse remédio você vai ficar doidinha, vai fazer várias bobagens”. É assim que a pessoa para, e quando isso acontece o cérebro dela começa a atrofiar. Hoje sabemos, se você usar a medicação na dose certa e no tempo certo, a qualidade de vida melhora muito. E os próprios neurônios começam a se recuperar.

Em uma semana eu saí do consultório profundamente deprimido. O último paciente que eu atendi, trouxe um monte de receitas que estavam escritas “VOCÊ NÃO PODE PARAR ESSE REMÉDIO”. Uma pilha de receitas. Ele tinha ido de 126kg para 94kg, com todos aqueles avisos. Ele entrou no consultório, começou a chorar e eu perguntei se ele tinha parado o remédio. Ele disse que sim e que estava pesando 156kg. Ou seja, em 6 meses ele ganhou 60kg. E sete pessoas pelo menos dependem do trabalho dele. Quanto sofrimento poderia ser evitado se isso não é uma doença psicológica, é uma doença bioquímica? É uma doença que vem do DNA e gera várias alterações psicológicas, é preciso tratar com a química e com a psicologia, mas é uma doença orgânica. Só que agora são 60kg para ele chegar a 94kg. Vocês podem até pensar “mas é um caso só” e eu te digo que não, isso acontece TODOS OS DIAS. Nutricionistas têm a mesma dificuldade de manter a aderência, a continuidade de tratamentos que precisam ser crônicos.

A sociedade tem um preconceito enorme contra qualquer medicamente que haja do pescoço pra cima. O pessoal aceita usar óculos, tomar remédio para tireoide, para colesterol, que tem várias contra indicações. Tomar remédio para hipertensão, que também tem várias contra indicações e inclusive deprime. Tomam vários remédios para tudo, menos para quando o problema é no cérebro. Nenhuma doença acontece no corpo sem antes dar no cérebro.

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